sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

“SER JOVEM” (Arthur da Távola)



Olá, queridos!!


Trabalhei com os alunos da 8ª série do Colégio Estadual José Bonifácio, em Paranaguá, esse lindo texto de Arthur da Távola. Depois de lermos e relermos, interpretarmos as figuras de linguagem propus: O que é ser jovem para você?


Os textos deles ficaram lindos e eu aproveito para postar o texto do Arthur da Távola e depois um texto da aluna Priscila Viegas da 8ª série E.


Quando comentar diga o que é ser jovem para você ou o que mais te impressionou nesse texto!!


Boa tarde!!


Beijos!


“Ser jovem é não perder o encanto e o susto de qualquer espera. É, sobretudo, não ficar fixado nos padrões da própria formação.Ser jovem é ter abertura para o novo na mesma medida do respeito ao imutável.
É acreditar um pouco na imortalidade da vida, é querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua, o impossível, o distante. Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali. É só pensar na morte de vez em quando. É não saber de nada e poder tudo.
Ser jovem é ainda acordar, pelo menos de vez em quando, assobiando uma canção, antes mesmo de escovar os dentes. Ser jovem é não dar bola para o síndico, mas reconhecer que ele está na sua. É achar graça do riso, ter pena dos tristes e ficar ao lado das crianças.
Ser jovem é estar sempre aprendendo inglês, é gostar de cor, xarope, gengibirra e pastel de padaria. Ser jovem é não ter azia, é gostar de dormir e crer na mudança; é meter o dedo no bolo e lamber o glacê.
É cantar fora do tom, mastigar depressa e engolir devagar a fala do avô. É gostar da barca da Cantareira, carro velho e roupa sem amargura. É bater papo com a baiana, curtir o ônibus e detestar meia marrom.
Ser jovem é beber chuvas, ter estranhas, súbitas e inexplicáveis atrações. É temer o testemunho, detestar os solenes, duvidar das palavras. Ser jovem é não acreditar no que está pensando exceto se o pensamento permanecer depois. É saber sorrir e alimentar secreta simpatia pelos crentes que cantam na praça em semicírculo, Bíblia na mão, sonho no coração.
É gostar de ler e tentar silêncios quase impossíveis. É acreditar no dia novo como obra de Deus. É ser metafísica sem ter metafísica. É curtir trem, alface fresquinha, cheiro de hortelã. É gostar até de talco. Ser jovem é ter ódio de cachimbo, de bala jujuba, de manipulação, de ser usado.
Ser jovem é ser capaz de compreender a tia, de entender o reclamo da empregada e apoiar seu atraso. Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama. É gostar de beijo, de pele, de olho. Ser jovem é não perder o hábito de se encabular. É ir para ser apresentado (“- Já conhece fulano?”) morrendo de medo.
Ser jovem é permanecer descobrindo. É querer ir à lua ou conhecer Finlândias, Escócias e praias adivinhadas. É sentir cheiros raríssimos: cheiro de férias, cheiro de mãe chegando em casa em dia de chuva, cheiro de festa, aipim, camisa, marcenaria ou toalha lá do clube.
Ser jovem é andar confiante como quem salta, se possível, de mãos dadas com o ar. É ter coragem de nascer a cada dia e embrulhar as fossas no celofane do não faz mal. É acreditar em frases, pessoas, mitos, forças, sons, é crer no que não vale à pena, mas ai da vida se não fosse isso.
É descobrir um belo que não conta. É recear as revelações e ir para casa com gosto do seu silêncio amargo ou agridoce.
Ser jovem é ter a capacidade do perdão e andar com os olhos cheios de capim cheiroso. É ter tédios passageiros, é amar a vida, é ter uma palavra de compreensão. Ser jovem é lembrar pouco da infância por não precisar fazê-lo para suportar a vida. Ser jovem é ser capaz de anestesias salvadoras.
Fossa: na linguagem informal, “estar na fossa” equivale a estar deprimido, desalentado.
Gengibirra: espécie de refrigerante de gengibre.
Metafísica: ramo da filosofia que estuda os fundamentos da existência ou realidade.
Metro: um dos mais importantes estúdios do cinema americano.
Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que se tenha, trinta, quarenta, cinqüenta, sessenta, setenta ou dezenove. É sempre abrir a porta com emoção. É esperar dos outros o que ainda não desistiu de querer. Ser jovem é viver em estado de fundo musical, de superprodução da Metro. É abraçar esquinas, mundos, espaços, luzes, flores, livros, discos, cachorros e a menininha com um profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa, cocada preta, dentes brancos e dedos tímidos, todos prontos para os desencontros da vida. Com uma profunda e permanente vontade de SER. ”




O que é ser jovem? (por Priscila M. S. Viegas - 8ª E - 2010)


Ser jovem é saber viver a vida, viver desafios, aprender coisas novas, sair, se divertir, brincar, sorrir. Mas, ser jovem, é também ter problemas.


Nem todo jovem pensa igual, jovem não tem idade certa e nem hora para ser jovem.


A pessoa, quando quer ser jovem, sabe viver, sabe a alegria da vida.


Tem jovem que é revoltado por motivos pessoais.


Mas, para mim, ser jovem é não beber, não usar drogas ou revoltar-se sem motivos.


A palavra jovem, por si só, já é tão cheia de vida para mim, ser jovem é viver!!






domingo, 15 de agosto de 2010

Um dia de menino...


Olá, pessoal!!

Como foram as férias de julho?

Aqui em Paranaguá muita, mas muita chuva mesmo...

Selecionei alguns textos dos alunos para postar nos próximos dias, mas antes disso vou postar o texto do meu irmão: Pablo Molina Cebrian - Ele trabalhou nas férias! hehehe

Tá ficando profissional, hem!! Parabéns!

Esse texto até poderia ser classificado como do gênero Memórias, mas para isso teria que ser em primeira pessoa. Por isso vamos classificá-lo como conto, pois assim preferiu o autor... (Qualquer semelhança, terá sido mera coincidência).

Deleitem-se e comentem...


Seis da manhã, o velho rádio relógio desperta para despertar também o menino. Lavar o rosto escovar os dentes. Sai para comprar o pão para o café da manhã. Antes de sair coloca a água no fogo, o leite na leiteira também vai ao fogo. No caminho para o mercado o menino tem que enfrentar um de seus maiores medos: é a hora em que os vizinhos soltam seus cães para fazerem as necessidades. Na rua desde vira-latas até cães de raça, para ele não importa a raça, desde que há muito foi perseguido por um pequeno cão, desenvolveu uma verdadeira fobia desses animais, não fosse pela gata Mimosa que enfrentou o cachorro, talvez tivesse sido mordido. É isso mesmo, uma gata enfrentou um cachorro para proteger o dono, acreditem se quiserem... No caminho muda de rua ao avistar um cão. Ele sabe que esses animais pressentem, pelo faro, o medo, e tenta ficar o mais longe deles possível, sabe também que não pode correr, pois isso aguça o instinto dos cães. Nesse dia segue para o mercado e, antes que possa mudar de calçada, se depara com um cão saindo detrás de uma moita, o animal logo pressente o medo e vai atrás dele rosnando e latindo, o menino segue seu caminho trêmulo, esperando a hora em que o animal vai cravar-lhe os dentes afiados, é quando aparece outro cachorro e o que está ao seu encalço o deixa para cheirar e brigar com outro da raça.
Quando volta para casa, a velha leiteira assobia alto acordando aqueles que ainda dormem, mas ela não assobia sozinha, da cozinha onde está, pode perfeitamente escutar outras leiteiras dos apartamentos vizinhos. Passa o café. Tão pequeno e se orgulha de fazer um bom café, três copos d’água, uma colher de sopa bem cheia de pó de café, açúcar depois, a gosto. Receita ensinada pelo pai que há alguns anos não está mais ali com a família, morreu inesperadamente de complicações pelo uso abusivo do cigarro, deixou-os desnorteados: mãe, uma irmã mais velha e o menino, dias difíceis...
A essa altura todos acordados, tomam café. É hora de ir para a escola, que fica a algumas quadras do apartamento, despede-se da mãe com um beijo e ruma para o Instituto de Educação, um grande colégio onde estudam crianças de toda a cidade. Na chegada ao colégio todos em fila no grande pátio interno, cantam o hino nacional, vêem o hasteamento da bandeira. Primeira lição do dia: moral e cívica, poucos a compreendem, no calor do verão, pela manhã, a tarefa não é tão penosa, já à tarde, quando ali mesmo estudou, não era difícil algum aluno desmaiar visto a força do sol na cabeça e o estômago cheio depois do almoço. Seguem para a sala de aula, no começo da caminhada, em fila, mas sem a presença de algum professor, quase sempre numa corrida desenfreada aos gritos, uns brincando, outros brigando. O menino possui alguns poucos amigos, e outros que o perseguem, sem ele nem saber o porquê. As aulas seguem, Português, regras de acentuação, ditado, antes de p e b vem m e no final das palavras. A professora se esforça para manter a turma em silêncio: briga, ameaça tirar nota. Uma senhora muito soberba, cabeça erguida, dona de si, um olho bem aberto e outro meio fechado tornando sua figura ainda mais imponente e ameaçadora, nenhum aluno ousa faltar-lhe, por respeito, o menino distante, de olho no relógio herdado do pai, conta as horas para o fim do tormento. Mais uma aula e é hora do intervalo, sai uma professora e entra outra, dessa vez, Inglês, a aula é menos pesada, todos sabem que Inglês, assim como Educação Física, não reprova. A professora bem mais agradável: uma senhora de cabelos brancos curtos, conhece a apostila de cor, todos os exercícios, e chama todos pelo sobrenome, conseguia o respeito da turma pela admiração, nunca perdeu a linha. E, depois de anos, com o menino já rapaz, para surpresa dele, ela o cumprimenta chamando-o pelo sobrenome, essa sim, digna de admiração.
Dez horas. Bate o sinal para o intervalo. Todos correm para a cantina, no cardápio, sagu quente servido na xícara azul de plástico com a colher da mesma cor. Uns pegam a merenda e voltam para o fim da fila pra poder repetir em seguida. O menino come o sagu quente sem muito apetite e com outro amigo conta moedas para comprar doces na casa da zeladora que improvisou uma pequena venda: balas, chicletes, maria-mole, teta-de-nega, e o preferido em dias quentes, chup-chup. Com algumas moedas fazia-se a festa: um luxo que só de vez em quando podia arcar.
De volta a sala de aula, antes do próximo professor entrar, muitas vezes era obrigado a aguentar ameaças e xingamentos dos maiores. Nesse dia um desses meninos ameaçou bater-lhe e ao tentar se defender arranhou o braço do outro, que só não o bateu na mesma hora porque o professor chegou, mas ameaça pegá-lo na saída. Nesses dias de ameaças, o tempo ao invés de se arrastar passava sempre mais rápido, já não conseguia prestar atenção na aula, pedir ajuda a algum professor só aumentaria a vergonha, estava por sua própria conta, o outro menino o olhava cada vez mais ameaçador, todos queriam briga, bate o sinal de saída e todos correm para a frente da escola para esperá-lo. Não era a primeira vez que isso acontecia, o menino franzino, triste por não ter com quem contar sai da sala, ruma para o fundo do colégio sozinho, uma pequena escada abre passagem para o prédio da faculdade, ele atravessa o pátio e sai pela frente, desce as escadas e vai para o lado oposto dos que o estão esperando. A próxima rua, sem saída, tem uma passagem no muro que dá para os trilhos do trem. Ele conhece bem o caminho: atravessa os trilhos e ruma para casa. Antes de atravessar a rua ainda vê que o estão esperando na frente da escola. Vai pra casa sorrindo, sobreviveu a mais um dia de “aula”.
Chega em casa e é hora do almoço, a mãe o cumprimenta e pergunta como foi a aula, “tudo bem”, ele responde, poupando a mãe do aborrecimento que a pouco havia passado. Almoça junto com a mãe e a irmã. A mãe sai para trabalhar e a tarde é para andar pelo bairro, brincar com os vizinhos, longe da escola. Na rua se sente muito mais protegido: jogam bets, bolinhas de gude, empinam pipas, quebram vidraças, estouram caixas de correios com bombinhas. Assim passava as tardes... Naquele dia, um vizinho maior o convida para pegar goiabas num quintal de uma casa vazia. Rumam para lá despreocupados. Ao chegar na casa percebem que está em reformas e que alguns homens estão trabalhando. Sem se importar seguem direto para a goiabeira e começam a cortar goiabas. Um dos homens que trabalhava ali pergunta o que estão fazendo, então o menino maior diz que a casa é da tia dele e que ela deixou cortar goiabas. O homem não acreditando começa a xingar e corre em direção aos meninos, que a essa altura já rumavam em disparada para o portão aberto, a tempo de ainda se esquivarem de um pedaço de pau que o homem os atirou. Seguem para a rua rindo, o coração disparado pelo susto e pela correria, nem uma só goiaba nas mãos. Logo a frente, percebem uma casa vazia, um muro baixo. Incentivado pelo menino mais velho pula o muro e os dois seguem para o fundo do quintal. Uma visão impressionante para o menino: um pé de maracujá, se é que se pode chamar assim, enorme, suas ramas cobrindo outras árvores e muitos frutos. Começam a colher os maduros do chão mesmo, os do pé ainda verdes. Sobem em uma árvore para alcançar a maior quantidade possível, rindo da sorte que tiveram. Também uma goiabeira, o menino corta uma goiaba e ao mordê-la percebe que está cheia de bichos. Joga fora, deixa o pé de goiaba de lado, quem precisa de goiabas quando se tem maracujás? Perdem algum tempo ali naquela função, usam as camisetas para levarem os frutos e ao rumarem para a frente do terreno deparam-se com uma viatura da polícia estacionada bem na frente da casa. "E agora?" - perguntam-se os dois. Ficam no fundo do terreno, esperando que a viatura saia. O tempo passa e também a paciência dos meninos, que decidem pular o muro do fundo da casa. Quando o maior aponta em cima do muro, escuta uma voz do outro lado: "Vocês estão cercados, a polícia cercou a casa" - e agora? Desesperados não sabem o que fazer. O menino só pensa que vai acabar preso. O medo está estampado no rosto do mais velho, que decide sair pelo portão como se nada tivesse acontecido, "se a polícia perguntar diga que a dona é nossa tia". A mesma história não havia colado com os pedreiros, a polícia iria acreditar? Se enchem de coragem e, ao tentar sair pelo portão, constatam que está trancado. Os policiais, na viatura, os observam. O menino mais velho apavorado ruma para o canto do muro mais afastado da viatura, pula e vai embora deixando o menor sozinho. Não podendo ir para trás da casa, o menino vê que só tem um jeito: pular o muro e encarar a policia. Respira fundo, põe os maracujás sobre o muro e com dificuldade pula na calçada. Começa a recolher as frutas. O policial o chama e pergunta: "O que você está fazendo ai menino?" Então o menino conta a história que a pouco não funcionara no outro quintal: "É a casa da minha tia, vim apanhar maracujás para ela." O policial finge engolir a história e, antes de dar a partida na viatura, aconselha: "Não faça mais isso. É perigoso. Você pode acabar tomando um tiro." O menino acena afirmativamente com a cabeça e ruma para casa. Ao chegar ao prédio, o vizinho o espera pra saber o que aconteceu. Ele conta como enganou os policiais e os dois riem e se divertem pelo susto que acabaram de passar. A tarde está acabando, logo sua mãe chegará do trabalho. Em casa o menino saboreia o melhor suco que já provou, não tão doce, um pouco azedo, um suco com o sabor que só quem já foi menino um dia, e roubou fruta do pé, pode conhecer e atestar.

domingo, 27 de junho de 2010

Copa do mundo


Olá, pessoal!!!

Está acontecendo, na África do Sul, um dos eventos esportivos mais badalados do planeta e que, especialmente entre os brasileiros, é o mais esperado. Ele muda nossas rotinas, muda as cores de nossas roupas, nossas ruas. Durante o tempo em que acontece a Copa do Mundo nos tornamos os espectadores mais apaixonados e patriotas que existem.

Eu tinha aula com o 2° ano F, do Colégio Estadual José Bonifácio, no dia da Abertura da Copa do Mundo e, como não poderia deixar de ser, a primeira coisa que eles perguntaram, quando eu entrei na sala, foi: "Professora, nós vamos assistir à abertura da Copa, não vamos?". Claro que eu já tinha conversado com a direção sobre o assunto e fomos liberados para assistir, desde que (Oração subordinada Adverbial Condicional) fizéssemos alguma atividade relacionada ao que assistiríamos.

Tudo acertado, os alunos começaram assitir à Abertura da Copa do Mundo com a tarefa de escrever um texto sobre aquele momento especial.

Vários textos foram entregues, mas eu quero destacar o texto do aluno Jean Paulo dos Santos.


Show da Shakira na Abertura da Copa do Mundo 2010

O dia 10 de junho de 2010 vai ficar em minha memória.

A abertura da Copa foi no melhor estádio da competição, o Soccer City, onde estavam presentes oitenta e cinco mil pessoas assistindo àqueles artistas que empolgavam não somente às pessoas de seus próprios países. Quando entrou no palco o grupo Black Eyead Pears, e só assim, o público todo da arquibancada levantou e cantou juntamente com eles seus melhores sucessos.

Mas, no final do Show estava guardado o melhor: a mulher que não representa só uma nação, uma estrela que não brilha somente para sua etnia, ela que já não é mas um ídolo para seus fãs, é uma Diva, Shakira.

Quando esta musa entrou em cena, o mundo inteiro, não só quem estava no estádio, arregalou os olhos e admirou o que de mais bonito há no mundo da música nos últimos tempos. Ela cantou e emocionou a todos nós com seus sucessos, mas, principalmente aos anfitriões da competição mais empolgante que existe, cantando a música que representa a Copa, "Waka Waka", junto com uma orquestra do Soweto, bairro pobre da África do Sul.

Que festa de união e paz entre os povos esse dia representou! Que dia especial foi aquele!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Promessas de Casamento - Martha Medeiros e Soneto da Fidelidade Vinícius de Moraes


Este texto foi enviado pela Haline, uma outra grande amiga!! Não faria mal se as promessas de casamento fossem mudadas mesmo, como incentiva Martha Medeiros... Mas, de que adiantam as promessas se, muitas vezes, não há o compromisso de cumpri-las? O texto é lindo!! Obrigada, Haline.


Promessas de Casamento

Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento a igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre. "Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?" Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:

- Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
- Promete saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?

- Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?

- Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?

- Promete se deixar conhecer?

- Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?

- Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?

- Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?

- Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?

- Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros.


domingo, 13 de junho de 2010

Amor X Escolha




Há muito tempo que tenho a certeza de que amor é muito mais que sentimento... O Sentimento é real, ele existe, mas o amor perdura mesmo depois que os sintomas (digamos assim) dos sentimentos desaparecem.


Foi a Kellen que compartilhou conosco este texto lindo da Lya Luft. A Lya é uma escritora madura,como a Kellen mesmo definiu, que começou como professora de Língua Portuguesa, como eu, mas que amava demais ensinar para continuar presa das burocracias do ensino: livros de chamada, notas, provas a corrigir, etc... Eu a invejo, um pouquinho, pois ainda não tive a coragem dela, que deixou tudo para trás e foi "ensinar" de outro jeito: ensinar-nos, leitores, a nós que queremos ouvi-la, que queremos aprender e degustar as ideias que ela nos passa, não para concordar com tudo, mas para questionar e crescer e aprender a pensar... Para nós ela não precisa dar nota, mas se desse, ela saberia que seria um 10!! Kellen, valeu, amiga!! Lindo texto!!






Amor X Escolha


A solidão dos homens tem a medida da solidão de suas mulheres. O casal perfeito seria o que sabe aceitar a solidão inevitável do ser humano, sem se sentir isolado do parceiro ou sem se isolar dele. Talvez se possa começar por aí: não correr para o casamento, o namoro, o amante (não importa) imaginando que agora serão solucionados ou suavizados todos os problemas como a chatice da casa dos pais, ver as amigas ou amigos casando e tendo filhos, a mesmice do emprego, chegar sozinho às festas e sexo difícil e sem afeto. Não cair nos braços do outro como quem cai na armadilha do "enfim nunca mais só!", porque aí é que a coisa começa a ferver. Conviver é enfrentar o pior dos inimigos, o insidioso, o silencioso, o sempre à espreita, incansável: o tédio, o desencanto, esse inimigo de dois rostos. Passada a primeira fase de paixão (desculpem, mas ela passa, o que não significa tédio nem fim de atração), começamos a amar de outro jeito. Ou a amar melhor; ou, aí é que começamos a amar. A querer bem; a apreciar,a respeitar; a valorizar; a mimar; a sentir a falta; a conceder espaço; a querer que o outro cresça e não fique grudado na gente. O cotidiano baixa sobre qualquer relação e qualquer vida, com a poeira do desencanto e do cansaço, do tédio. A conta a pagar, a empregada que não veio, alguém na família que ficou doente ou problemático, a mãe ou o pai deprimido ou simplesmente o emprego sem graça e o patrão de mau humor. E explodimos, queremos morrer, quando cai aquela última gota, pode ser uma trivialíssima gota - aí nos damos conta: nada mais é como era no começo. Nada foi como eu esperava. Não sei se quero continuar assim, mas também não sei o que fazer.Como não desistimos facilmente porque afinal somos guerreiros ou nem estaríamos mais aqui, e também porque há os compromissos, a casa, a grana e até ainda o afeto , é preciso inventar um jeito de recomeçar, reconstruir.Na verdade, devia-se reconstruir todos os dias. Usar da criatividade numa relação. O problema é que, quando se fala em criatividade numa relação, a maioria pensa logo em inovações no sexo, mas transar é o resultado, e não o meio . Um amigo disse no aniversário de sua mulher uma das coisas mais belas que ouvi: "Todos os dias de nosso casamento (de uns 40 anos), eu te escolhi de novo como minha mulher". Mas primeiro teríamos de nos escolher a nós mesmos diariamente. E de vez em quando sentar na cama ao acordar, pensar: como anda a minha vida? Quero continuar vivendo assim? Se não quero, o que posso fazer para melhorar? Quase sempre há coisas a melhorar, e quase sempre podem ser melhoradas. Ainda que seja algo bem simples; ainda que seja mais complicado, como realizar o velho sonho de estudar, de abrir uma loja, de fazer uma viagem, de mudar de profissão. Nós nos permitimos muito pouco em matéria de felicidade, alegria, realização e sobretudo abertura com o outro. É difícil? Sim, é difícil. É duro? Sim, é duro. Cada dia, levantar e escovar os dentes já é um ato heróico, dizia Hélio Pellegrino. Viver é um heroísmo, mas viver bem um amor, mais ainda. O casal perfeito talvez seja aquele que não desiste de correr atrás do sonho e da certeza de que, apesar dos pesares, nós, a cada dia, nos escolheríamos novamente!!!

Ainda falando de amor, porque falar de amor, nunca é demais...

A Karolinne Goulart enviou o poema de Camões como sugestão, é que recitaram esse lindo soneto no dia do noivado dela. Um soneto é um poema escrito em quatro estrofes, dois quartetos (estrofes de 4 versos) e dois tercetos (estrofes de 3 versos). Ele é realmente lindo!! Mas como, na sexta-feira eu havia postado o capítulo 13 da 1ª Carta de Paulo aos Coríntios, vou postar o texto de Camões, como a minha grande amiga e ex-aluna (também das boas!) Karol pediu, e depois a junção dos dois textos que Reanato Russo, do Legião Urbana, fez, na música que ele nomeou como Monte Castelo, é linda demais!!!
Bom dia a todos e continuem nesse clima de amor e paixão!

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís Vaz de Camões
Monte Castelo
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja
Ou se envaidece...
O amor é o fogo
Que arde sem se ver
É ferida que dói
E não se sente
É um contentamento
Descontente
É dor que desatina sem doer...
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...
É um não querer
Mais que bem querer
É solitário andar
Por entre a gente
É um não contentar-se
De contente
É cuidar que se ganha
Em se perder...
É um estar-se preso
Por vontade
É servir a quem vence
O vencedor
É um ter com quem nos mata
A lealdade
Tão contrário a si
É o mesmo amor...
Estou acordado
E todos dormem, todos dormem
Todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade...
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...
Composição: Renato Russo (recortes do Apóstolo Paulo e de Camões).